MARIA, MARIA
Quando a vi pela primeira vez
praticamente nem a vi. As pessoas, em sua maioria, não costumam prestar muita
atenção às varredoras de rua. Mas Maria parece não se importar com isso, porque
também não presta muita atenção às pessoas que passam pôr ela, uma vez que está
sempre olhando para baixo, à procura do que varrer.
É baixa e magra, como convém a alguém
que sempre comeu muito pouco, e sua pele tem a coloração típica dos que tomam
sol, chuva, mormaço, ou qualquer coisa que não se possa escolher ou evitar.
Seus cabelos crespos e negros parecem encolher-se ainda mais, para não sofrerem
a ação do vento impregnado de poeira e poluição. Olhos amendoados, também
negros, sem brilho: inexpressivos. Com certeza refletem a sensação de que é
inútil expressar-se, seja para reclamar de qualquer coisa. Mas são olhos duros,
de quem protesta, pelo silêncio, contra a dor ou simplesmente contra o peso da
rotina fatigante, cumprida à risca, para ninguém achar defeito. O nariz
levemente achatado e os lábios grossos são a confirmação dos traços da raça.
Boca fechada, apesar do muito que teria a dizer. Fechada, como se recomenda aos
quer desejam manter o emprego, ainda que tão árduo.
Maria tem habilidades manuais. Quando
criança, queria ser costureira de lindos vestidos. Agora quer sobreviver de
maneira honrada. Seu uniforme de funcionária da limpeza pública em nada se
parece com os vestidos do seu sonho de menina. Ela deixa agora os sonhos para
seus dois filhos, porque é a única coisa que pode deixar como herança. Isso é o
exemplo da sua luta, da sua esperança que tira do nada.
Exilada em sua própria cidade, pelo
tempo que lhe toma o trabalho, quase não vê a família, mas persiste e acima de
tudo acredita, pois “quem traz na pele essa marca possui a estranha mania de
ter fé na vida”.
(
BRANCA GRANATIC )
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