VIDAS SECAS ( Graciliano Ramos )
Quando perguntado o que seria a obra Vidas secas, Graciliano Ramos
respondeu que se tratava de “um livrinho sem paisagens, sem alegria, sem
diálogo e sem amor”. Na verdade, estamos diante de um romance triste, cheio de
tensões críticas entre o homem e o seu meio. Um meio social, um meio de
violência, de latifúndio, enfim, um meio natural, hostil e seco.
Duas temáticas podem ser percebidas neste romance: as adversidades em
relação ao meio e as adversidades em relação ao outro. Graciliano Ramos
trabalha nas esferas do social e do universal, do particular e do coletivo.
Falar em regionalismo em Vidas Secas é diminuir, então, esta obra. O nordeste
será meramente o palco destas discussões, uma vez que os nordestinos estarão em
voga, sobretudo na geração de 30.
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Vidas secas – que é comparado às vezes a uma metáfora contra o Estado
Novo – é composto de treze capítulos autônomos. Estes treze capítulos autônomos
formam uma estrutura narrativa um tanto quanto “seca”. O primeiro capítulo, que
é intitulado “Mudança”, mostra uma família de retirantes composta – a princípio
– por seis membros: Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais novo e o menino mais
velho, a cachorra Baleia e um papagaio. Nada é dito ao leitor com relação à
origem desta família, assim como nada é dito sobre os lugares por onde eles
passam. Da mesma forma, nenhuma informação é dada ao leitor desta obra no que
diz respeito ao destino final desta família. Não se sabe para onde a família
está migrando. Outro fato curioso é que o autor não dá nenhuma localização
temporal. Isto comprova que Vidas secas é uma obra atemporal, clássica, jamais
envelhecerá.
O romance apresenta uma estrutura narrativa que pode ser considerada
aberta. Graciliano Ramos não é um narrador que conta apenas os fatos que
acontecem. Ele dá voz aos personagens para que cada um – inclusive os animais –
se coloque enquanto indivíduo naquele meio adverso. Daí se dizer que os animais
são humanizados, já que colocam a sua visão com relação a sua condição
“humana”. Em contrapartida, os personagens são animalizados. Incapazes de
articular seus pensamentos, os personagens podem ser facilmente comparados a um
papagaio, que só reproduz. Quando Sinhá Vitória mata o papagaio para que a
família o comesse, eles estariam comendo, sim, um semelhante, um igual.
Fabiano – que é branco, ruivo e de olhos azuis – é extremamente
“seco”, assim como todas os demais personagens. A sina de Sinhá Vitória é
almejar a vitória, a estabilidade. Os meninos são igualmente “secos”, uma vez
que não lhes é atribuído pelo autor nomes – são somente tidos como o menino
mais novo e o menino mais velho. Isto denota uma grande falta de identidade,
falta de raízes – que eles estão indo buscar nem sabem onde. Graciliano Ramos,
que é dono de um traço pessimista em outras obras, dá em Vidas secas uma tênue
esperança. Fica subentendido no final da obra que eles partem para outro lugar,
para onde o que importa é que ainda há movimento em busca de vida, mesmo que
seja seca.
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