quarta-feira, 12 de junho de 2013

CRÔNICA: INCLUSÃO É ISSO?

INCLUSÃO É ISSO?

        Estávamos todos lá. Exatamente os quarenta e cinco alunos de um  agitado sexto ano esperando o momento mágico da chegada da professora. Sempre inquietos é claro, mas na expectativa. Alguém estava de prontidão para avisar a turma da bagunça tão logo ela entrasse no corredor.
        Assim que entrou na sala, percebi que aquele não era seu melhor dia. Alguma coisa não lhe ia bem. A confirmação veio de imediato. Havia um peso em seu semblante e em suas palavras: “Bom dia a todos! Bom, daqui a pouco vamos receber duas crianças que passarão a estudar conosco. Chamam-se Isabela e Julio, ambos têm necessidades especiais. A Isabela tem Déficit Intelectual e Bruno, além de cadeirante, tem paralisia cerebral...”
        Olhares interrogativos. Não demorou e a professora sanou todas as dúvidas sobre a inclusão social. Em seguida, Isabela e Julio chegam à sala acompanhados por duas inspetoras. Diante dos olhares curiosos da turma, sentaram-se nas carteiras em frente à mesa da professora que os apresentou à sala da forma mais amável possível.
        Entretanto, os meus olhos continuavam postos na professora. De fato ela estava toda atrapalhada. Enquanto passava um texto na lousa fora interrompida por diversas vezes: “Professora, o Julio está caindo da cadeira!” Largava tudo e saia correndo a suspender o garoto para cima. “Professora, o Julio está babando!” Outra vez, largava tudo e corria a limpá-lo. Agora, era a vez de Isabela: “Olha o desenho que eu fiz!” ou “Minha letra está bonita?” ou “Quero ir ao banheiro!” ou “Onde está minha mãe?” Enquanto isso, a turma da bagunça se aproveitava da situação e aprontava das suas. Vez por outra uma bolinha de papel ou um aviãozinho voava pela sala e atingia o rosto de alguém. Aqui e ali se levantavam alguns para provocar os mais tímidos. E a professora prestes a estourar, dizia medindo e pesando cada letra: “Isabela, assim que eu terminar de escrever o texto vou verificar sua lição. Eu não esqueci de você. Aguarde-me sentadinha, tá?
        Tocou o sinal para o intervalo. Ela estava exausta e frustrada por não ter conseguido explicar as atividades referentes ao texto. Quando se desculpou diante da sala é que pude entender a origem de sua preocupação. Se ministrar aulas para quarenta e cinco já era difícil que dirá para mais duas crianças e com necessidades especiais.


( por Maria Alice Vidal da Silva )

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