INCLUSÃO É ISSO?
Estávamos todos lá. Exatamente os quarenta e cinco alunos
de um agitado sexto ano esperando o
momento mágico da chegada da professora. Sempre inquietos é claro, mas na
expectativa. Alguém estava de prontidão para avisar a turma da bagunça tão logo
ela entrasse no corredor.
Assim que entrou na sala, percebi que
aquele não era seu melhor dia. Alguma coisa não lhe ia bem. A confirmação veio
de imediato. Havia um peso em seu semblante e em suas palavras: “Bom dia a
todos! Bom, daqui a pouco vamos receber duas crianças que passarão a estudar
conosco. Chamam-se Isabela e Julio, ambos têm necessidades especiais. A Isabela
tem Déficit Intelectual e Bruno, além de cadeirante, tem paralisia cerebral...”
Olhares interrogativos. Não demorou e a
professora sanou todas as dúvidas sobre a inclusão social. Em seguida, Isabela
e Julio chegam à sala acompanhados por duas inspetoras. Diante dos olhares
curiosos da turma, sentaram-se nas carteiras em frente à mesa da professora que
os apresentou à sala da forma mais amável possível.
Entretanto, os meus olhos continuavam
postos na professora. De fato ela estava toda atrapalhada. Enquanto passava um
texto na lousa fora interrompida por diversas vezes: “Professora, o Julio está
caindo da cadeira!” Largava tudo e saia correndo a suspender o garoto para
cima. “Professora, o Julio está babando!” Outra vez, largava tudo e corria a
limpá-lo. Agora, era a vez de Isabela: “Olha o desenho que eu fiz!” ou “Minha
letra está bonita?” ou “Quero ir ao banheiro!” ou “Onde está minha mãe?”
Enquanto isso, a turma da bagunça se aproveitava da situação e aprontava das
suas. Vez por outra uma bolinha de papel ou um aviãozinho voava pela sala e
atingia o rosto de alguém. Aqui e ali se levantavam alguns para provocar os
mais tímidos. E a professora prestes a estourar, dizia medindo e pesando cada
letra: “Isabela, assim que eu terminar de escrever o texto vou verificar sua
lição. Eu não esqueci de você. Aguarde-me sentadinha, tá?
Tocou o sinal para o intervalo. Ela
estava exausta e frustrada por não ter conseguido explicar as atividades
referentes ao texto. Quando se desculpou diante da sala é que pude entender a
origem de sua preocupação. Se ministrar aulas para quarenta e cinco já era
difícil que dirá para mais duas crianças e com necessidades especiais.
( por Maria Alice Vidal da Silva )
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