EDUCAÇÃO EM CRISE?
Não! A educação escolar brasileira não
está em crise? Vou usar a expressão educação escolar, porque educação é algo
que vai além da escola. A escola é um dos lugares onde a educação acontece.
Dito isso, volto a reafirmar: a educação
escolar brasileira não está passando por uma crise como tanto se escuta e se lê
diariamente. Mas por que estou afirmando com tanta veemência que a educação não
está em crise, se a maioria dos especialistas no assunto e, também, os
comunicadores dizem o contrário?
A razão é simples e tem a ver com
a palavra crise. Se fosse uma crise, já teria passado. Algo que se prolongue
por muito tempo não pode ser chamado de crise. Crise é algo que se resolve
dentro de um espaço de tempo não muito longo. Resumindo: crise é algo que
sempre é passageiro.
O que está acontecendo com a
educação escolar no Brasil vem de muito longe. Vem dos tempos do Império. Tem a
ver com a própria origem dos primeiros modelos de educação que foram
implantados por essas Terras Brasilis. Assim, nossa situação de precariedade na
educação escolar é decorrência do modelo, ou melhor, dos modelos que foram
adotados desde sempre.
Vale ressaltar que isso que estou
afirmando não é nenhuma novidade. Pelo menos para quem tem se preocupado, realmente,
em estudar e tentar entender com seriedade e honestidade o que acontece com a
sociedade brasileira em geral e com a educação escolar em particular. Senão,
vejamos: o antropólogo e pensador Darcy Ribeiro (1922-1997) já dizia, nos idos
da década de 70, que o Brasil padecia de uma doença crônica que era a tendência
a copiar e a imitar os modelos, primeiro de além-mar e, depois,
norte-americanos, ao invés de criar, de inventar as próprias alternativas para
os seus problemas e dificuldades.
Se dermos um salto de quatro
décadas, veremos que outro pensador, e esse um educador de ofício, Mario Sergio
Cortella, tem reafirmado, em suas palestras e livros, que o grande problema da
educação escolar brasileira não é de crise, mas, sim, do modelo ou modelos de educação
escolar que temos adotado. Nossos modelos educacionais têm esquecido algo
elementar: as crianças reais do país real em que vivemos: o Brasil. Um país
onde cerca de 80% das crianças de periferia, que cursam o segundo ano do Ensino
Fundamental, têm mais escolaridade que os pais. Isso não é crise. Isso é modelo
falido desde sempre. Pergunto: será que não temos teorias demais, pedagogias
demais, investigações demais, psicologias demais sobre educação escolar e,
infelizmente, atitudes de menos?
VALDO BARCELOS|Professor da UFSM e escritor
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